Review do livro "O regresso dos Deuses: Rebelião" - Illusionary pleasure

27.06.11
Há leituras que podem vir em tempos bastante ingratos, há outras que comparando com outros livros até podem ser surpresas agradáveis. Depois de Le Guin, li mais dois livro da Karen Moning para desligar o cérebro e voltá-lo a activá-lo quando pegasse no próximo livro. Penso que se não o tivesse feito, o desgraçado do livro “Rebelião” (vamos chamar assim que o original é maior) sofreria críticas mais cruéis. Primeiro deixem-me literalmente explodir de alegria por ver finalmente um livro de Fantasia com um a personagem, que para a maioria das pessoas deve ser detestável.

Para mim, é com agrado que vejo uma mulher, escrita pela mão de um homem, a conseguir um balanço muito bom entre a guerra e a arte de matar, aliado à personalidade marcante. Pedro Ventura construiu Rebelião à imagem e semelhança de Cáledra. Tudo foca na sua pessoa, e sem ela o livro termina. Esta importância resulta tanto num afastamento por parte do leitor que poderá não simpatizar com a personagem principal, como pode devorar as páginas completamente enamorado da sua frescura.

Ao longo do livro deparei-me com uma questão “Se retirarmos Cáledra, o que resta do livro?”. Existem várias raças/ povos, bastantes discussões políticas provavelmente exploradas nos dois livros anteriores. Contudo e devido à dificuldade de acesso penso que o leitor sofre de uma falta de background história e sobretudo racial importante. Imaginar um dhorian ou um audhorians. O que me leva a outro problema – os nomes que para ler parece que estamos a invocar o demónio. Eu sei que a Fantasia implica por vezes nomes esquisitos, e não é a mesma coisa ler um Artur a dizer “Irei esventrar-te”, ou um tipo chamado Ghaleas (não sei se este nome apareceu no livro, só memorizei quatro nomes). Existem tantos nomes esquisitos em Portugal, principalmente nas aldeias, que acho engraçado estarmos por vezes a recuperar essas origens mais obscuras, do que ir buscar a outro sítio. Outro acontecimento curioso foi o facto de muitos dos aliados da Portadora da Luz aliarem-se a ela devido a visões. Se muitos desconfiavam da sua Capitã e até a chamavam de louca, achei engraçado que muitos só se juntavam porque tinham tido visões.

O problema de Rebelião será também a descendência do livro anterior. Supostamente alguém tenta matar Calédra, mas quem? Embora esta pergunta seja quase o ponto de partida do livro a meio a história sofre tanta volta e rumo próprio, que a Portadora da Luz nem quer saber quem a matou. Quando a trama começa a adensar, a personalidade de Calédra afrouxa e o único romance que há no livro é pobre. Curiosamente tive a mesma sensação ao ler “A game of thrones” onde a parte afectiva não era explorada. Quando assisti à apresentação do livro, este aspecto já tinha sido tratado e estava consciente que não haveria romance, contudo o par que se forma é tratado com demasiada brevidade. Uma pessoa quando lê um livro precisa também de sentir algo, não apenas amor/ódio pela personagem principal.

O erro e a virtude de Rebelião está em Calédra.

O autor merece de igual “kudos” não só por ter usado poucas descrições, como também por não ter feito Infodump à bruta. Muita informação a própria Calédra descobria nos livros e é uma forma diferente de introduzir o passado sem ser através do narrador Todo-Poderoso. Vale a pena ler “Rebelião”, especialmente para aqueles que tiveram oportunidade de ler “As crónicas de Fealgar” e claro que o fim do livro grita por uma sequela. Poderá ser que no próximo as raças e histórias sejam mais desenvolvidas, visto que foi este o único ponto fraco.

Opinião: “O Regresso dos Deuses – Rebelião” de Pedro Ventura (por Vítor Frazão)

19.05.11

Não tendo lido “Goor – A Crónica de Feaglar” volumes I e II, o meu principal receio ao pegar em “O Regresso dos Deuses – Rebelião” foi que isso fizesse diferença (embora já me tivesse assegurado que não). Felizmente, depressa descobri que embora a narrativa desperte alguma curiosidade sobre as obras anteriores (aliás, sobre todo o universo literário em questão) a leitura destas não é um pré-requisito necessário para a apreciar.

 

Embora seja imediatamente identificada com high fantasy, “O Regresso dos Deuses – Rebelião mantém-se longe dos clichés e insere elementos novos, o que lhe confere originalidade, nomeadamente temas que são mais habituais em ficção científica do que em fantasy, evitando ao mesmo tempo uma transferência entre os géneros (tentativas que por vezes podem descambar em resultados que “não são carne nem peixe”, o que felizmente não foi o caso).

 

Contrariando uma tendência que infelizmente tem vindo a fazer sentir o seu peso dentro do fantástico (mandando às urtigas décadas de evolução), em “O Regresso dos Deuses – Rebelião” temos uma protagonista feminina forte. Quando digo forte não estou a falar apenas de uma pirralha com um pouco de atitude e uma língua afiada, nem de uma lutadora semi-nua com mais curvas do que cérebro, mas uma verdadeira guerreira, cujo valor vem de efectiva força física e psicológica. Sim, Calédra é bela, como vários personagens o afirmam, porém, o seu aspecto não tem qualquer peso face aos actos, nem é utilizado como uma vantagem.

 

Calédra Denaris é poderosa, tanto que, por vezes, se torna difícil identificarmo-nos com esta irascível e arrogante rufia possuidora de capacidades sobrenaturais, todavia, ao mesmo tempo, vemos ocasionais momentos de fraqueza e dúvida que revelam um ser além da mera máquina de guerra, da salvadora que fará o que for preciso para defender o mundo do domínio dos Holkan.

 

Em redor desta guerreira temos um conjunto de personagens secundárias que, tal como a protagonista, são pintadas com tons de cinzento, o que lhes fornece uma refrescante ambiguidade moral (que nem sempre vemos obras de high fantasy) e também preparou o terreno para algumas surpresas.

 

O único senão da obra é a ausência de descrições mais pormenorizadas, o que dificulta a visualização física de certas personagens, não obstante, também compreendo que a introdução de tal elemento poderia ter prejudicado o ritmo da narrativa.

 

Em suma, uma boa leitura, que não desiludiu (risco sempre presente quando criamos expectativas).      

O Regresso dos Deuses: Rebelião - Resenha ( I Dream in Infrared - Rogério Ribeiro )

15.05.11

"Coloquemos desde já as cartas em cima da mesa: O Regresso dos Deuses – Rebelião (2011, Editorial Presença), de Pedro Ventura, é um livro que um leitor ou adora ou odeia. Isto porque a obra, transcendendo as suas qualidades e defeitos, é movida por uma escrita tão intensa e visceral, por vezes extremamente desapaixonada, outras vezes exactamente o oposto, que não deixa espaço à indiferença.


Calédra, antiga rainha dos aurabranos, é acordada após um sono de décadas, qual Merlin destinado a ressurgir no momento de maior necessidade. Mas aqui começa também o calvário desta personagem: as expectativas de um mundo pesam sobre esta guerreira singular, mas ainda desorientada perante a nova era. A reacção não poderia deixar de ser intempestiva; de vontade férrea, aceita a sua responsabilidade, mas nos seus próprios termos.

Crescentemente, Calédra torna-se um “buraco-negro” que condiciona amigos e inimigos. Para além disso, é esta a personagem que marca todo o livro, e é ela que o carrega do princípio ao fim. Dona de uma personalidade indomável, revelando-se muitas vezes prepotente, arbitrária, ou apenas moralmente alheada, Calédra demonstra uma aposta de Pedro Ventura em criar uma protagonista em tudo diferente do molde já batido da comum fantasia épica.
Aliás, também o arco de história, que engloba mais do que este livro, deixa, principalmente na figura dos endeusados Holkan e da sua relação com Calédra, pistas que remetem esse mesmo registo de fantasia épica para um suspeito véu colocado sobre a nossa percepção da realidade.

Toda a narrativa está bem construída (para um volume que funciona como introdução a uma obra mais vasta), mas assenta fortemente na aceitação do leitor em se tornar em mais um dos seguidores indefectíveis de Calédra. Sem essa “submissão”, que o autor consegue lograr pelo arrojo com que impõe a protagonista, imagino que a leitura seja dificultada. Com uma escrita adulta, e um enredo que muito se aproxima de um espírito quase shakespeariano, Pedro Ventura faz poucas concessões ao facilitismo, ocupando uma posição na actual literatura fantástica nacional que, apesar de não esvaziada de executantes, era urgente reforçar.

A linguagem utilizada poderá revelar-se outro ponto de ruptura. Assumidamente grandiloquente, poderá para alguns leitores ser insuportavelmente pomposa. Verdadeiramente, o nível de tolerância é marcado pela imersão que o leitor ser permitirá ter na história. E esta limitação inicial acaba por ser uma mais-valia para o seguimento da leitura; quer quando existem alguns episódios cuja exposição está menos conseguida, quer quando as atitudes das personagens dificultam a manutenção de empatia ou identificação do leitor com as mesmas. Mas para quem lá chegar, a leitura já se terá tornado compulsiva.

Apresentando-se como um (re)início ambicioso, e deixando no final das suas páginas a promessa de maiores revelações num volume vindouro,Regresso dos Deuses – Rebelião marca, em boa hora, a “descoberta” de Pedro Ventura pelo grande público. Estão de parabéns o autor e a editora, por esta honrosa adição à colecção Via Láctea."

Opinião sobre Regresso dos Deuses - Rebelião no blogue Tales of Gondwana

15.05.11
Opinião: O enredo inicia-se com o despertar de Calédra, para quem o longo sono forçado se assemelhou mais a um doloroso cárcere. Inicialmente amargurada e crente de que aquele tempo não era o dela, é notável a evolução da personagem até ao momento em que o inverso se faz sentir – algo que decorreu sem atropelos, no seu devido tempo.
Fiquei com a sensação de que mais do que a história da revolução de um povo contra aquilo que seriam os primórdios de uma ditadura, trata-se de dar a conhecer Calédra, uma personagem complexa e intrínseca, que se encontra bem longe da ideia convencional de heroína. Aliás, mais do que uma heroína, ela é uma líder, acartando consigo tanto as virtudes quanto as atrocidades.
Por outro lado, senti que houve uma certa falta de atenção em relação às restantes personagens. Eles têm conteúdo, personalidade distintas, passados que as atormentam, factos que nos são ditos e outros que se deixam adivinhar… E ainda assim, estava constantemente com a sensação de que faltava algo. Talvez um maior aprofundamento das suas sensações, que por vezes surgiam apenas no papel, mas falhavam em serem transmitidas ao leitor… Ou talvez seja um problema apenas meu, não sentido por outros possíveis leitores. Tenho consciência de que essa hipótese não é inválida.
Quanto à narrativa, não me agradou o modo como foi descrita a sucessão dos acontecimentos, e em algumas alturas o autor poderia ter oferecido mais pormenores, envolvendo mais o leitor. Estas são, contudo, as únicas coisas negativas que tenho a apontar.
Por fim, é de ressaltar o pormenor de que não foi seguida a linha de “os maus são esta raça e os bons aquela” que tantas vezes se vê e que tanto me tem feito torcer o nariz. Apesar da existência de várias raças, e de haver uma natural maioria para um lado ou para o outro, cada um deles é tratado como uma cabeça independente, que mesmo com as ideologias e crenças que lhes são naturais, fazem as suas escolhas dependendo mais no modo de pensar que na raça a que pertence. Ademais, a narrativa não é exactamente “o bem contra o mal”, assemelhando-se muito mais às realidades que marcam a História do nosso próprio mundo.   

Passatempo - Regresso dos Deuses - Rebelião

28.04.11

O blogue Voz de Celénia tem para oferecer um exemplar autografado do livro O Regresso dos Deuses - Rebelião, de Pedro Ventura. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Como se chama a protagonista deste livro?
2. Em que colecção da Presença se encontra incluído este livro?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 5 de Maio. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para noctis2006@sapo.pt, juntamente com os dados pessoais (nome e morada completos);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

Personagens Femininas Fortes da Literatura, Televisão e Cinema

13.08.10

Decidi pegar neste desafio que encontrei na internet e usá-lo aqui.

I want to compile a list of strong female lead characters from sci-fi, fantasy and action media– literature, film, television. I do have a few restrictions–

  • No co-star/ensemble leads. They must be the definitive lead, no True Lies or The Incredibles, or Mr. & Mrs. Smith style answers, please.
  • No Damsel in Distress syndrome. It’s fine if a man comes to their aid once, maybe twice, but ultimately they must be strong enough to get themselves out of their own scrapes.
  • No anime. Sorry, but the anime sub genre is a whole separate focus.
  • No comic book or videogames exclusive characters. Again, whole separate focus.
  • No children. Teenagers and up, only. I reserve the right to alter this rule in one direction of the other.
  • No “sex pots.” Good rule of thumb–if each breast is roughly the size of their head, or they perform a strip tease for no good reason–don’t suggest them.

 

Vou recordar apenas duas (óbvias ) personagens do cinema, mas espero que tragam mais. Será uma boa forma de recordar e reflectir sobre personagens que quebraram muitos dos estereótipos que ainda hoje surgem como um estigma. Atenção! Não pretendo personagens tipo Barb Wire nem duplas! 

 

 

Ellen Ripley ( Sigourney Weaver – Alien ) Definida como "one of the first female movie characters who isn't defined by the men around her, or by her relationship to them", esta é uma personagem incontornável quando se fala de personagens “fortes”e de ficção cientifica. Esta “heroína improvável” é empurrada pelas circunstâncias e acaba por ter sucesso onde nem os duros “space marines” ou “double-Y”conseguem, enfrentando uma das “piores espécies do cinema”, sem nunca perder as marcas da sua feminilidade. Muitas vezes movida pelo puro instinto de sobrevivência, Ripley também revela inteligência, adaptabilidade, um feroz desejo de “acertar contas” e até instintos maternais - veja-se o salvamento desesperado de Newt em Aliens. 

 

 

Yu Shu Lien (Michelle Yeoh) Um pouco esquecida, esta personagem teve a “sorte” de ser encarnada pela Michelle que lhe empresta uma férrea serenidade. Confiança, altruísmo, honra, talento, sabedoria e força não lhe faltam. A sua  relação com Li Mu Bai é retratada com grande beleza e sem os “disparates parvo-românticos” do costume. Uma mulher que, sendo vulgar, não o é.

 

 

No panorama nacional é muitíssimo difícil encontrar personagens que “encaixem” neste escrutínio. Assim de memória, apenas me lembro de uma. 

 

 

Calédra Denaris ( Goor – A Crónica de Feaglar ) – Mesmo sendo referida como extremamente bela, não faz dessa característica uma “arma de destruição maciça” e é por isso que não é excluída – razão que leva, por exemplo, Lara Croft a o ser. Atraiçoada, incapaz de salvar os filhos, encarcerada, deixada para morrer, Calédra resiste a tudo, apesar de isso deixar profundas marcas no seu carácter algo volúvel – oscilando entre a vilania e a heroicidade, o que lhe dá autenticidade. Vaidosa, prepotente, talentosa e temerária, este “uplift” de uma raça já por si “superior”( sem feitiçarias ou passes de mágica ) surge como um volte-face no enredo e assume um protagonismo pouco usual num Género em que as mulheres geralmente não passam da princesa chorosa e tremente.    

 

 

Por: ANDREIA TORRES 

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