Os Livros que me Marcam: Goor- A Crónica de Feaglar
A tal crónica épica com laivos de fantástico ( adulto ) que alguns se queixam de não encontrarem...
pior e para o melhor: o Bem e o Mal não são estanques. As personagens, heróis ou vilões, são sempre seres humanos dotados das mesmas virtudes e defeitos de todos nós. Talvez
seja por isso que os leitores, facilmente, se identificam com esta ou aquela personagens"
"Por fin chegou ás nosas mans a segunda parte da Crónica de Feaglar. E se me pedides que vola resuma nunha frase, direi-vos que concordo que as segundas partes non son boas, neste caso, son mellores!
O ben e o mal nunca son absolutos, e personaxes que poden parecer abomináveis nun momento, conseguen gañar a nosa simpatía noutra altura simplemente porque no fondo, e todos sabemos iso, a vida pon-nos en situacións nas que nada do que creiamos é inmutábel. A grandeza da historia reside, ao meu parecer, neste punto. Porque é unha historia de seres humanos. Non é unha epopeia, é un reflexo do que podería pasar en calquera parte, se eliminásemos os elementos máxicos ou fantásticos. Non hai vitórias ou derrotas absolutas, e algunhas das vitórias son realmente amargas. Pero iso é algo que só lendo esta crónica pode ser descuberto. Dar mais detalles sería innecesário, coido eu, e podería mesmo romper a máxia da lectura. Polo tanto, amigos, facédeos cun exemplar e sacade as vosas próprias conclusións.
Podemos facer duas lecturas diferentes: unha, as aventuras e desventuras duns homes coraxosos loitando por conservar o único mundo que coñecen, e outra, para min mais interesante aínda, as chaves da verdadeira natureza humana, capaz do mellor e do peor. O heroe por excelencia, Feaglar, revélase coma un home coas mesmas fraquezas que calquera outro, que falla ás suas mais férreas conviccións e promesas por ser apenas iso, un home.
in Nova Fantasia ( Espanha )
FANTASIA
"Goor a Crónica de Feaglar é uma fantasia épica e pode ser considerado um livro de fantasia porque, de facto, tem o tal mundo secundário, com leis próprias e no qual temos de acreditar para estar dentro dele, como nos disse um grande senhor chamado John Ronald.
Temos os tais elementos imaginários, inverosímeis, a tal casualidade de carácter mágico que liga toda a narrativa.
No entanto, essa fantasia não surge sob a forma de gnomos, elfos, anões ou magos ( esses velhos amigos por quem tenho muito respeito… ), nem a procurei colocar tão longe da realidade dos Homens.
Goor tenta também descobrir o maravilhoso na essência do ser humano e em questões fundamentais que eu diria serem paralelas às nossas.
Este é também um livro de valores humanos e sobre o valor intrínseco de cada um e da própria humanidade. Mas não é nem pretende ser um livro de moralidades, é antes aquilo que eu chamaria um livro de singularidades…
Singularidades que nos são próximas.
Aqui temos basicamente pessoas vulgares, como vocês ou eu, independentemente de serem reis, rainhas, camponeses ou de terem qualquer característica especial, na esfera daquilo que é fantástico, sobrenatural.
Pois eu acredito que a própria existência do Homem, a sua singularidade como forma de vida, a sua vontade, a sua curiosidade, o seu lado esotérico e oculto, podem já ser algo extraordinário.
E no mundo de Goor isso também acontece...
ÉPICO
Esta é também uma narrativa épica porque já a partir deste primeiro volume temos acontecimentos conflituosos, naquilo que é o início de uma demanda que poucas vezes será pacífica, especialmente no segundo livro.
Mas mesmo neste primeiro, não faltarão batalhas, escaramuças e duelos individuais, no caminho das personagens.
E eu prometo que elas irão dar muito e bom uso às suas espadas…
E quando digo elas, não estou a usar o feminino apenas para me referir às personagens no geral… Quem ler o livro, cedo descobrirá que as mulheres vão ser ossos duros de roer, que em nada ficam atrás dos colegas masculinos…
Bem, pelo contrário…
E sinceramente, nestas batalhas e lutas tentei dar o meu melhor, não só por gostar pessoalmente desses momentos de acção, mas também por saber como é difícil transmitir, sem recorrer ao visual, as ambiências, os sentimentos e o próprio ritmo que devem ter.
E todos sabemos como hoje ( na nossa actual sociedade ) o aspecto visual, cinematográfico é importante.
Tentei por isso criar condições para que seja mais fácil imaginar esses cenários e essas acções.
Espero ter conseguido, pois se não consegui vou ficar muito chateado comigo próprio…
ROMANCE
Para além disto, o livro tem também romance no seu sentido mais sentimental e convencional.
As personagens estabelecem naturais relações entre si e com aquilo que as rodeia.
Estas não são personagens pétreas e intocáveis. Vão sentir paixões arrebatadoras, outras mais corriqueiras e passageiras, mas todas elas importantes.
E essas relações vão sendo cada vez mais complexas e reveladoras da sua complexidade individual.
È nesses momentos que o ritmo da história abranda, naquilo que poderão ser chamados de nichos de intimidade das personagens. Também eles reveladores das suas forças e fraquezas, dos seus sonhos, anseios e medos.
E não falo apenas das relações amorosas e das suas alegrias e desencantos. A amizade também não foi esquecida, nem o ódio, nem o desejo, nem a inveja…
Enfim, julgo que teria de haver esta carga emocional ao longo da obra, pois as emoções humanas ( como o amor e o ódio ) são um motor fundamental de qualquer história, mesmo neste mundo incerto e imaginário.
HISTÓRIA
Começa-se aqui a desenrolar um novelo de mistérios que recuam até tempos antigos e esquecidos. Mistérios aos quais podíamos chamar mitos ou lendas, que nós, felizmente também temos…
A princípio o rei mostra-se céptico, mas os seus sentimentos, a sua curiosidade e o seu sentido de dever irão levá-lo a abraçar esta verdade e a desafiar este perigo.
A partir deste momento inicia-se a grande aventura… ou talvez a grande tragédia…
No mundo de Goor nada é certo e quem pensar que estas personagens ( e outras porque são muitas ) vão ter um passeio no parque, montados nos seus cavalos brancos, desengane-se…
E estas personagens não são heróis que enfrentam tudo de peito aberto e com um sorriso nos lábios. São pessoas vulgares ( como já referi ) com defeitos e virtudes, forçadas por acontecimentos, mas que realmente preferem partir a vergar…
Mas em Goor a linha entre a vitória e a derrota é muito ténue. Posso até dizer que o conceito de vitória é enganador…
Enfim, não vale a pena estar a desvendar muito sobre este esta história ( até porque já estaria a adiantar-me demasiado )
Este mundo de Goor está no livro para quem o quiser conhecer e conviver com as suas personagens e continuará num segundo volume.
Só posso desejar que tenham tanto prazer a lê-lo como eu tive a escrevê-lo para vocês ( e acreditem que foi um prazer de muitas e muitas horas )
Obrigado a todos."
*Retirado da palestra no Fórum Fantástico 2006
Contra ventos e tempestades, sem apoio tecnológico ou alguém do meu lado, mas com muitos amigos e familiares na plateia, lá levei o mundo de Goor ao Fórum Fantástico organizado pelos também eles fantásticos Rogério Ribeiro e Safaa Dib.
Um obrigado especial à organização, aos meus país ( que apareceram de surpresa - grandes malucos! ), à minha mulher, familiares e a um grupo de amigos e amigas muito especiais! É por vocês que continuarei a batalhar e a escrever. Goor é este mundo que vos ofereço!...
Na edição de dia 10 de Novembro do suplemento cultural 6ª, integrado no jornal Diário de Notícias, surge uma entrevista à organização do Fórum Fantástico, Rogério Ribeiro e Safaa Dib. Excerto da entrevista: Num país onde as literaturas nas áreas do fantástico são espaço de nicho, limitada sendo também a oferta livreira nestes domínios face à vasta produção internacional, a ideia de promover um encontro regular nasceu de primeiras conversas entre Rogério Ribeiro, editor da Bang!, e Safaa Dib, ambos dirigentes da Épica - Associação Portuguesa do Fantástico nas Artes. “Havia pessoas no meio académico que pensavam que ninguém ligava às análises que faziam sobre literatura fantástica, assim como leitores deste género que se queixavam de falta de reflexões teóricas, falta de críticas e mesmo de edições. E no primeiro encontro essas situações acabaram com resposta”, comenta Rogério Ribeiro. Safaa Dib acrescenta que “havia ainda uma outra comunidade de jovens que gostavam de Dungeons & Dragons, de literatura fantástica um pouco mais comercial.” A proposta de ambos os organizadores foi no sentido de fazer convergir estes meios.