Parece ser uma palavra muito presente, nos últimos tempos, quando se fala de livros, mas a verdade é que há muito mais, no mundo da distopia, para além dos sucessos mais recentes. Há clássicos - tanto quanto se pode definir o conceito de clássico - que, apesar dos anos, permanecem pertinentes e actuais nas questões que evocam, perturbadores na possibilidade que apresentam, da existência de uma sociedade como a que narram, e, escritos num registo mais ou menos denso, mais ou menos descritivo, vastíssimos naquilo que têm para oferecer. O que se segue são algumas sugestões de leitura enquadradas nesta categoria.

 

1. A História de uma Serva - Margaret Atwood
História de uma ditadura teocrática e, ao mesmo tempo, percurso pessoal de um dos elementos desse sistema, este é um livro que, dentro das distopias consideradas clássicas, surpreende, em primeiro lugar, pela fluidez de uma escrita nada densa, por um ritmo viciante, e por uma empatia que se gera para com a protagonita e que se mantém, ao longo da evolução do seu caminho e da exposição do que caracteriza um sistema assustadoramente plausível. Sendo o mais envolvente dos cinco livros desta lista, seria possivelmente um bom ponto de partida para descobrir as distopias, mas não desilude, de forma alguma, quem já tiver lido outras obras do género.

 

2. Mil Novecentos e Oitenta e Quatro - George Orwell
Bastante mais denso que o anterior, o que acaba por se adequar na perfeição à opressão do sistema apresentado, esta história de um mundo controlado pelo Grande Irmão é uma leitura exigente, mas riquíssima. Tudo no sistema é convincente e, uma vez assimilada a sua verdadeira dimensão, o que a história transmite é muito mais que o percurso das personagens. É todo um conjunto de questões - sempre actuais - sobre liberdade e segurança.

 

 

3. Fahrenheit 451 - Ray Bradbury

Também particularmente marcante pela construção de um ambiente opressivo, bem como pelas muitas questões que evoca, este é um livro que questiona a importância da preservação do património cultural, mas também da manutenção da individualidade, num cenário onde o conformismo é o elemento dominante e a simples posse de um livro - esse objecto tão simples e tão mágico - é um crime. Não é uma leitura leve, nem nunca o poderia ser, mas é fascinante em todos os aspectos. E, talvez, especialmente perturbador para os bibliófilos.

 

São livros muito diferentes, entre si, mas todos levantam questões fundamentais na forma como abordam o mundo que querem mostrar aos leitores. Estas questões, associadas ao muito de interessante que há também na história e nas personagens - que também contam, afinal - e na própria escrita, até, fazem destes livros um ponto de passagem fundamental para descobrir as bases dessa tal palavra - distopia - que nos leva a ponderar a realidade.

publicado por Carla Ribeiro às 14:01