360 páginas
Opinião:
Este livro, que me foi gentilmente enviado pela Mariana Lucera - que conheci através de alguns dos Goor que atravessaram o oceano, divide-se em duas partes: a primeira passada no mundo “real” e a segunda em Damantiham, o universo imaginário.
Essa primeira parte foi uma agradável surpresa com a pequena Amy, a protagonista, a recordar-me as personagens de Enid Blyton, apesar da sua condição de “aventureira solitária”.
Logo nas primeiras páginas pressenti (posso estar enganado) que a autora estava a estender a homenagem inicial ao pai, na personagem de Jordan Dismorri: “Na verdade, para a menina, o pai era seu herói”. Um ponto positivo, numa visão meramente pessoal, pois não acredito em autores que se “alimentem” apenas dos livros que leram, esquecendo a sua experiência de vida. Esta suspeita leva-me a outras que confirmarei com a Mariana…
Amy é uma menina viciada em livros e representa na perfeição muitos dos jovens leitores (e não só...) a quem a obra se destina. Essa identificação será fácil e ajudará a criar um laço emocional com a história. Eu não fui imune a essa relação...
“… pois Emy não gostava de fritar no sol. Na verdade ela preferia o inverno.”
Sublinhei estas (e outras) frases e senti logo uma grande empatia por Emily, alguém com quem gostaria certamente de conversar ou acompanhar numa aventura. Nem sempre o dono de um Morgan é a melhor companhia numa trincheira...
Se, por um lado, o caminho trilhado pela personagem principal nessa primeira parte é fácil de decifrar, a autora é competente em despertar de um interesse crescente no enredo. A biblioteca transforma-se na “gruta de cristal” que dá acesso ao maravilhoso - uma visão juvenil, mas saudável, que não desaparece em mim e que gosto de encontrar amiúde.
Em relação à segunda parte, esclareço já um ponto: não sou um leitor habitual de livros que incorporem magia – por opção própria são poucos os que li até hoje. As minhas bases comparativas não são muitas e tentar opinar sem gerar spoilers será difícil... Mas aqui vai:
Em termos de escrita, não me recordo de ter encontrado erros.
Por vezes há interrupções (quase sempre para explicações sobre o passado) que travam o ritmo de leitura, mas talvez sejam necessárias para o público-alvo.
Apesar da simpatia por Emy, a minha personagem preferida é… Amyla. Tenho uma preferência por personagens acídicas e a obra alimenta, em certos momentos, essa empatia pela vilã, personagem que me parece ser a que alcança maior complexidade. Consegui mesmo criar uma imagem mental da feiticeira, exercício que sempre me apraz. Confesso que cheguei mesmo a "torcer" por ela.
Obviamente, o livro, classificado como literatura juvenil, vive da dicotomia Bem/Mal, mas consegue diluí-la, aqui e ali, em tons cinzentos de heróis ligados a um egoísmo politiqueiro e vilões que não são “maus só porque sim”.
No fim, as personagens sobrevivem na nossa mente e alguns mistérios ( que considero fulcrais no enredo ) permanecem em aberto, o que nos leva a querer ler “O Medalhão Mágico: A Cidade Perdida”. Venha ele, então! Sabendo o que se vai ler, ninguém se sentirá enganado!
Nota:
A leitura ser feita sem qualquer problema. Palavras como “barganharmos” ou “pipocar” não dão sequer para tropeçar na leitura – e eu não sou daqueles que vê novelas e conhece de fio a pavio as particularidades do português do Brasil. Quem for de Portugal e quiser ler, não terá qualquer dificuldade.