Entrevistas da Andreia ( as perguntas que os outros blogs gostavam de fazer...)
VITOR FRAZÃO
Quem é o Vitor Frazão?
Um arqueólogo que gosta de escrever dark, low e high fantasy. E não, não escrevia in utero, o que a ter em conta certas biografias parece ser defeito grave. É só. Mais que isso ficaria com a impressão que estou a usar um dating service.
Fala-me do teu trabalho literário.
Bem ou mal, comecei com o livro “Crónicas Obscuras – A Vingança do Lobo” pela Chiado Editora (sim, eu sei, acreditem eu sei). Os erros dessa primeira ingénua aventura permitiram-me melhorar consideravelmente os trabalhos seguintes, quer em contos como nos 3 livros que se seguem a “A Vingança do Lobo”, já escrito mas ainda por editar. Não vou massacrar ninguém com uma lista dos contos que escrevi, apenas dizer que publiquei na Fénix, na Nanozine, num ebook da Editora Draco e ebooks associados ao projecto “Fantasy & Co.” e que a maioria passa-se no universo de “Crónicas Obscuras”, ou seja, nas sombras do nosso próprio mundo, povoadas de criaturas sobrenaturais. Casos queiram saber mais:http://www.goodreads.com/author/show/3499681.Vitor_Fraz_o.
O que podemos esperar de ti no futuro?
Sem sombra de dúvida mais contos de fantasia nos mais variados formatos. Obviamente quero publicar mais livros de “Crónicas Obscuras”, afinal não os escrevi para ficarem na gaveta, mas realisticamente num futuro imediato, da minha parte, verão mais conto que livros.
Que ligação é essa com a Manga?
Somos só amigos, não é nada sério. Acho piada, não és a primeira pessoa que em 2013 indica essa ligação ou aponta manga como o meu formato literário favorito. Não o é. Simplesmente desafiei-me a ler 700 (volumes de manga) em 2013, por isso é que ultimamente me vêem a falar mais de manga do que é habitual. É um estilo que gosto muito, sem sombra de dúvida, e após anos a ver animes foi a evolução natural (até porque em 80/85% das vezes a manga supera a anime), agora, não acho que tenha uma ligação diferente de qualquer outro formato que me forneça narrativas de fantasia ou ficção-científica. Dito isto, Freud e Jung que me desmintam.
Tens uma presença assídua na internet e já deves ter reparado que há muitas pessoas a perguntar aos amigos/conhecidos o que devem ler e a terem respostas quase sempre iguais - dentro do mainstream da moda. Há uma tendência para o "ovelhismo" nos leitores actuais?
Pelo menos nos leitores cujas leituras são publicas há essa tendência. Lêem os mesmos livros, na mesma altura e dão opiniões que não variam muito. Se as duas primeiras são desculpáveis, uma vez que nada é mais natural que apresentar um bom livro a um amigo, a última é preocupante. Que um grupo alargado de pessoas gostem do livro X ou Y, compreensível, que gostem todas pelos mesmos motivos e o expressem da mesma maneira... Obviamente há excepções, mas a tendência é essa. Numa sociedade de consumo ultra-mediatizada os livros não são diferentes de qualquer outro produto, estando sujeitos às mesmas modas, por fugazes que elas sejam.
Agora se esse tal “ovelhismo” muitas vezes eleva obras inferiores mais populares e soterra obras superiores menos conhecidas, também é verdade que pode ser usado para o oposto. É só alguém aceitar o desafio.
É notório que te irritam as opiniões simplórias e/ou vazias de conteúdo sobre livros. Infelizmente, até há quem os escolha pela capa... Há realmente sérias lacunas na cultura literária (e até geral... ) da maioria dos(as) quem andam por aí a avaliar livros em blogs e sites?
Fazes perguntas para as quais já sabes as respostas.
O facto de todos termos direito a opinar não significa que o devamos ou tenhamos capacidades para. Afinal somos iguais em direitos, não capacidades. De facto, incomodam-me “opiniões” que basicamente são apenas sinopses alargadas ou sumários dos livros, com um “gostei” ou “não gostei” carimbado no fundo, mas acho mais preocupante a falta de espírito crítico de certos bloggers. Falta de cultura literária é perdoável até um certo ponto se a pessoa der provas que não sabe mas que quer aprender, agora a falta de espírito crítico ou algo patente de ser confundido com uma personalidade é muito mais grave e difícil (ou mesmo impossível) de corrigir.
Têm estas pessoas direito a gerir os blogues como lhes aprouver? Sem dúvida!
Posso limitar-me a não ler o que escrevem? Claro, normalmente é o que faço, quando tais opiniões não me são enfiadas pelos olhos. Por isso é que na prática só acompanho 4 ou 5 blogs.
Tenho o direito de ficar chateado quando cometo o erro de ler certas opiniões? Ainda não, brincas!
Achas honesto que haja blogues/sites "patrocinados" por editoras que se limitam a publicitar os livros que recebem como "recompensa"?
Incomoda-me mais a falta de honestidade nas opiniões desses livros. Que recebam esses livros como pagamento por um serviço que estão a prestar, tudo bem (embora ache que devia tentar negociar algo melhorzinho), que escrevam a opinião que se sentem na obrigação em vez daquela que honestamente querem e devem escrever já não me agrada. Acima de tudo não me agrada como leitor, o que significa que quando me deparo com esses género de opiniões reviro os olhos e dificilmente voltarei ao blog em questão.
Achas que a inactividade da maioria dos autores contemporâneos do teu " A Vingança do Lobo" revela o fim de um ciclo? O vosso Cretáceo chegou ou ainda vão dar luta?
Para alguns, sim, o Cretáceo chegou, quer por desencanto perante o meio ou por incapacidade de lidar com críticas. Agora, sei de fonte segura que alguns continuam fighting the good fight, embora seja an uphill battle. Entretanto no Jurásico surgiram novos autores, alguns dos quais muito promissores.
Já reparei que há centenas (milhares?) de pessoas no Facebook a intitularem-se autores/escritores sem nunca terem feito nada de relevante e até costumo dizer em tom de brincadeira que em Portugal há mais autores do que leitores... É quase como se também fosse moda. Há uma banalização da escrita e isso pode levar a uma redução qualitativa?
Uma banalização da escrita? Quem nos dera! E da leitura, já agora, para os leitores passarem a ser a regra e não a excepção.
Fora brincadeiras. Pode levar a uma redução qualitativa? Pode, não tanto (ou não apenas) pela qualidade ou falta dela dos vários escritores, mas pelo simples aumento da amostragem. De resto acontecerá o mesmo que sempre aconteceu: alguns continuarão, idealmente tornando-se melhores com o tempo, outros cairão no esquecimento. Afinal, indivíduos a intitularem-se autores/escritores existem desde que há editoras (provavelmente até antes), simplesmente as tais “areias do tempo” engoliram a maioria, reduzindo-os a referências obscuras na memória de meia-dúzia de curiosos.
Como comentas esta citação: "People found out that poorly made fanfic pornography can be marketed for millions given the right impetus. They're trying to capitalize on the moment."
Todos sabemos que as editoras querem é fazer “a quick buck”, só é penas não se aperceber que essa mesma máquina publicitária podia ser usada para elevar obras e autores de qualidade. Estão tão preocupados em aproveitar as modas que não se apercebem que podia estar a fazê-las, sendo a segunda opção muito mais rentável.
Diz-me o nome de três livros que consideras que todas as pessoas deviam ler?
“O Estrangeiro” de Albert Camus, “Ratos e Homens” de John Steinbeck e “A Arte da Guerra” de Sun Tzu.
O que te faz continuar neste mundo literário, quando já sabes que as recompensas são muito poucas?
Podia dizer que o faço por ter histórias na cabeça que simplesmente precisam de materializar-se, mas ambos sabemos que isso é treta. Escrever posso fazer sempre, nem que seja para a gaveta. Não preciso tentar publicar ou sequer de fazer parte do “mundo literário”.
Até há bem pouco tempo era guiado pelo sonho de viver de escrever, para poder dedicar-me em exclusivo às minhas histórias. Morto esse sonho, faço-o pela mão cheia de pessoas interessante que vou conhecendo (por poucas que sejam) e conversas estimulantes que tenho em redor desta ou daquela narrativa.
Quem gostarias que fosse entrevistado aqui no "Voz"?
Alguém que já não tenha visto entrevistado ad nauseam. Talvez novo e promissores escritores portugueses como Carlos Silva ou Inês Montenegro.