Pedacinho Literário: opinião sobre Regresso dos Deuses - Rebelião.

27.06.11

O Regresso dos Deuses - Rebelião, Pedro Ventura



Título: O Regresso dos Deuses – Rebelião
Autoria: Pedro Ventura
Editora: Editorial Presença
Colecção: Via Láctea, N.º 95
Nº. Páginas: 390
Sinopse:
Após um longo sono de várias décadas, Calédra, a bela guerreira aurabrana, desperta subitamente para uma realidade que lhe é estranha, um tempo que não é o seu. Antiga rainha dos aurabranos e senhora de um passado obscuro, Calédra, outrora conhecida como a Portadora da Luz, está destinada a protagonizar uma missão quase impossível – salvar o mundo, e muito em particular os humanos, da crescente ameaça representada pelo domínio Holkan. Ao longo desta saga extraordinária, são muitos (e improváveis) os aliados que Calédra vai encontrando, e muitas são também as vezes em que a guerreira enfrenta inimigos terríveis – como Mugar-Abe, o tenebroso regente do reino e aliado dos Holkan – e se vê às portas da morte. Mas o seu espírito singular e inquebrantável promete dar luta aos seus inimigos e cativar-nos desde logo, pela sua determinação, levando-nos a ler com insaciável velocidade as páginas deste épico vibrante.
Opinião:
Que espantosa surpresa.
Pedro Ventura vem reafirmar a naturalidade e qualidade escrita que corre nas veias de muitos escritores nacionais. Aventurando-se na fantasia épica, o autor apresenta uma obra delicadamente estruturada e robustecida por uma protagonista de peso – Calédra. Não tendo nada a ver com comuns personagens principais femininas encontradas, cada vez com maior frequência, em muitos romances do género fantástico – e não só épico –, Calédra destaca-se pela sua personalidade firme, espírito rebelde e mente ousada, indomável.
O Regresso dos Deuses – Rebelião trata-se de um romance épico de grande qualidade, escrito de forma belíssima, ora apresentando momentos de uma paixão incrível ora focando-se no caminho seguido pelos personagens e na ambiência cénica, que serve de “apresentação” ou início, de uma vertiginosa aventura à qual, dificilmente, o leitor conseguirá resistir.
Após décadas de um sono intenso, Calédra acorda para uma realidade totalmente desconhecida, claramente bastante diferente da sua. Sem compreender por completo o porquê de se encontrar onde se encontra, Calédra passa por todo um processo de consciencialização perante um presente estranho e um abandono inevitável por parte daqueles que outrora conhecera. E é somente depois de compreender o real propósito do seu acordar que ela leva em atenção a concretização da sua missão, embora com uma mistura interessante de sentimentos contrários pelo meio. Corajosa, audaciosa e arrojada, Calédra não olhará a meios para atingir o seu fim, que se define pela simples premissa de ter de salvar o mundo de uma ameaça invulgarmente forte.
Pedro Ventura criou em, O Regresso dos Deuses – Rebelião, um enredo curioso e complexo que, embora inicialmente possa não agradar por completo ao leitor, a verdade é que este, quando dá verdadeiramente conta do correr das páginas e do fluir da leitura, já não consegue mais largar o livro. Sem dúvida, o foco de destaque vai para a personagem principal. A sua peculiar força e atracção agarram o leitor de tal maneira que este encontra nela um escape da rotina fantástica que caracteriza as mulheres como flores frágeis e quebradiças, normalmente eternamente apaixonadas e ansiosas por um futuro impossível. É nesta primeira quebra com o comum que Pedro Ventura capta a atenção do leitor, e ainda que não estejamos perante um clássico da literatura ou uma grandiosa obra, a verdade é que O Regresso dos Deuses – Rebelião mostra um primeiro contacto prometedor e cativante, que cria expectativas no leitor e que, principalmente, posteriormente as cumpre, deixando uma espécie de formigueiro irrequieto quando finalmente se atinge o fim e se encontra uma promessa de algo mais... de algo extraordinário.
Indo contra as normas de um romance entre duas personagens que caracteriza todo o avançar de uma obra, Pedro Ventura decide antes salientar os valores e os sentimentos mais profundos que constituem as personagens ao invés de envolver toda uma ambiência romântica em torno de uma aventura intricada e perigosa. Assim, a narrativa mostra-se desprovida daquela primeira impressão excessivamente enjoativa e previsível para dar asas a uma criatividade heróica e inesperada.
Diferente. Ambicioso. Eloquente, O Regresso dos Deuses – Rebelião é o tipo de livro que qualquer aficionado por fantasia épica deveria experimentar. Lá por ser português não é motivo para se passar ao lado ou para se julgar sinónimo de pouca qualidade, muito pelo contrário. Tratando-se de uma obra nacional, é de enfatizar a importância para o reportório português que obras deste carácter têm. Caso a sinopse lhe tenha surtido interesse, aventure-se; caso não, aventure-se de igual forma. Valerá a pena. 

Review do livro "O regresso dos Deuses: Rebelião" - Illusionary pleasure

27.06.11
Há leituras que podem vir em tempos bastante ingratos, há outras que comparando com outros livros até podem ser surpresas agradáveis. Depois de Le Guin, li mais dois livro da Karen Moning para desligar o cérebro e voltá-lo a activá-lo quando pegasse no próximo livro. Penso que se não o tivesse feito, o desgraçado do livro “Rebelião” (vamos chamar assim que o original é maior) sofreria críticas mais cruéis. Primeiro deixem-me literalmente explodir de alegria por ver finalmente um livro de Fantasia com um a personagem, que para a maioria das pessoas deve ser detestável.

Para mim, é com agrado que vejo uma mulher, escrita pela mão de um homem, a conseguir um balanço muito bom entre a guerra e a arte de matar, aliado à personalidade marcante. Pedro Ventura construiu Rebelião à imagem e semelhança de Cáledra. Tudo foca na sua pessoa, e sem ela o livro termina. Esta importância resulta tanto num afastamento por parte do leitor que poderá não simpatizar com a personagem principal, como pode devorar as páginas completamente enamorado da sua frescura.

Ao longo do livro deparei-me com uma questão “Se retirarmos Cáledra, o que resta do livro?”. Existem várias raças/ povos, bastantes discussões políticas provavelmente exploradas nos dois livros anteriores. Contudo e devido à dificuldade de acesso penso que o leitor sofre de uma falta de background história e sobretudo racial importante. Imaginar um dhorian ou um audhorians. O que me leva a outro problema – os nomes que para ler parece que estamos a invocar o demónio. Eu sei que a Fantasia implica por vezes nomes esquisitos, e não é a mesma coisa ler um Artur a dizer “Irei esventrar-te”, ou um tipo chamado Ghaleas (não sei se este nome apareceu no livro, só memorizei quatro nomes). Existem tantos nomes esquisitos em Portugal, principalmente nas aldeias, que acho engraçado estarmos por vezes a recuperar essas origens mais obscuras, do que ir buscar a outro sítio. Outro acontecimento curioso foi o facto de muitos dos aliados da Portadora da Luz aliarem-se a ela devido a visões. Se muitos desconfiavam da sua Capitã e até a chamavam de louca, achei engraçado que muitos só se juntavam porque tinham tido visões.

O problema de Rebelião será também a descendência do livro anterior. Supostamente alguém tenta matar Calédra, mas quem? Embora esta pergunta seja quase o ponto de partida do livro a meio a história sofre tanta volta e rumo próprio, que a Portadora da Luz nem quer saber quem a matou. Quando a trama começa a adensar, a personalidade de Calédra afrouxa e o único romance que há no livro é pobre. Curiosamente tive a mesma sensação ao ler “A game of thrones” onde a parte afectiva não era explorada. Quando assisti à apresentação do livro, este aspecto já tinha sido tratado e estava consciente que não haveria romance, contudo o par que se forma é tratado com demasiada brevidade. Uma pessoa quando lê um livro precisa também de sentir algo, não apenas amor/ódio pela personagem principal.

O erro e a virtude de Rebelião está em Calédra.

O autor merece de igual “kudos” não só por ter usado poucas descrições, como também por não ter feito Infodump à bruta. Muita informação a própria Calédra descobria nos livros e é uma forma diferente de introduzir o passado sem ser através do narrador Todo-Poderoso. Vale a pena ler “Rebelião”, especialmente para aqueles que tiveram oportunidade de ler “As crónicas de Fealgar” e claro que o fim do livro grita por uma sequela. Poderá ser que no próximo as raças e histórias sejam mais desenvolvidas, visto que foi este o único ponto fraco.

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